Dedicação de professor incentiva alunos a aprender matemática na Escola do Legislativo

O curso de Matemática Básica tem uma turma com 133 pessoas inscritas e é comandado pelo professor Abel Mangabeira. Apesar da quantidade expressiva de alunos, nenhum sai da sala sem aprender o assunto. A dedicação e o esforço do professor têm motivado os estudantes a não desistirem. Esse comportamento humanizado por parte de Mangabeira tem chamado à atenção de todos.

A aluna Eduarda Moraes Silva, 30 anos, professora da rede municipal de ensino, encarou o retorno à sala de aula como requisito básico para evoluir profissionalmente e passar em um novo concurso público. Ocorre que a falta de uma boa base matemática levou-a pensar, momentaneamente, em desistir, o que não se concretizou por intervenção do professor, que pediu que voltasse que explicaria novamente a questão.

“Fiquei surpresa com essa atitude. Se fosse outro, não se importaria com a minha saída. Fiquei muito sensibilizada, e depois que explicou a questão como se houvesse somente eu naquela sala, entendi”, disse Eduarda, ao contar o porquê de querer abandonar a aula. “Pensei, estou perdendo meu tempo, até porque cheguei atrasada, então vou embora tentar entender em casa e depois eu volto para acompanhar a aula. Mas depois da reação dele, me senti importante!”, reafirmou, dizendo que também ficou a lição da persistência. “Foi legal o que ele fez para nunca desistirmos, mesmo na dificuldade. Eu poderia ter saído da sala frustrada por não entender a matéria, mas a atitude dele me fez mudar de ideia, me deu um ânimo, mais vontade de aprender”, reforçou.

Na opinião dela, a Escola do Legislativo demonstra preocupação com os alunos quando contratou professores qualificados. “A Escola do Legislativo tem um papel fundamental, de extrema importância para a comunidade, principalmente para aquelas pessoas que estão desempregadas, sem condições de arcar com essa despesa extra. A direção tem um olhar humano para com a comunidade quando traz professores qualificados, que se importam com os alunos, fazendo a gente se sentir importante, especial e valorizada, como eu me senti”, avaliou.

O comportamento do professor também chamou a atenção da pedagoga Maria do Socorro Marques Lima, 55 anos, que voltou a estudar na busca de requalificar para o mercado de trabalho. “Estou estudando matemática básica porque estamos na onda dos concursos, então estou revisando a material. O professor Mangabeira é excelente e ensina de uma forma que fica fácil compreender. Ao impedir que a aluna saísse da sala, ele demonstrou interesse pelo aprendizado dela, que estava perdida naquela questão. A atitude foi muito boa porque resgatou e incentivou a aluna dizendo ‘você vai aprender’. Afinal todos somos capazes de aprender. Ninguém é burro, o que falta é dedicação e incentivo”, ressaltou.

Natural do Maranhão, Maria do Socorro, que tem até netos, é também um exemplo de persistência. Ela retomou os estudos aos 36 anos por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) quando concluiu os ensinos fundamental e médio. “Depois disso fiz cursinho preparatório para vestibular e consegui me formar em Secretariado pelo IFRR (Instituto Federal de Educação) e em Pedagogia pelo Instituto Federal do Pará (IFPA). Agora estou fazendo Letras e Espanhol no IFRR e estudando na Escola do Legislativo para passar em um concurso público, pois os professores aqui dedicam seu tempo para ensinar. Tomara que continue a Escola do Legislativo, pois acredito que está sendo um projeto sério, com muitas pessoas se qualificando”, disse.

“Professor de verdade se importa com o aluno”, afirma Mangabeira

O professor Abel Mangabeira disse que parte da construção do aprendizado passa pelo empenho do professor em querer e se esforçar para que o aluno aprenda. Ele conta que para chegar ao nível de ensinar se dedicou muito ao estudo da matemática, teve o apoio de professores comprometidos, e que tenta nas aulas que ministra fazer com que todos os alunos aprendam a disciplina.

“A minha preocupação é desenvolver o melhor trabalho e tenho convicção que posso fazer qualquer um dos alunos aprender e entender a disciplina. O melhor neste processo é sair da sala de aula com todo mundo tendo 100% de aproveitamento. Não sossego enquanto eles não aprendem tudo. A essência da profissão é fazer as pessoas aprenderem, é tocar a vida dessas pessoas com a aprendizagem. Gosto de estar em sala de aula. Amo fazer o aluno sair dizendo ‘eu aprendi isso pela primeira vez na vida’”, explicou Mangabeira.

Ele contou que sempre teve facilidades com algumas disciplinas e que resolveu, aos 16 anos, se dedicar ao estudo da matemática para realizar o sonho de ser militar das forças armadas. “Estudei para o concurso em um cursinho, com bolsa, é claro, porque vim de família muito pobre e não tinha dinheiro para isso. O dono desse cursinho me incentivou bastante e todos os sábados ele fazia uma palestra motivacional. Inclusive foi esse professor que me puxou para dar aula pela primeira vez na vida. Na época passei em cinco concursos, sendo quatro para oficial e um para sargento, mas fiquei reprovado no exame de vista. De maneira justa as forças armadas me rejeitaram e fui para a sala de aula. Mas considero isso também uma sorte porque Deus sabe o que faz, e a vontade Dele está acima da minha, e quando Ele toma uma decisão, ao invés de questionar o porquê, só sigo, e tem dado certo a vida toda, pois saí da periferia do Rio de Janeiro e hoje dou aula em todos os cantos do Brasil”, contou, ao salientar que já passou em 20 concursos públicos.

Na avaliação dele o ensino da matemática na rede de ensino regular ainda é capenga em função do sistema educacional, pois há professores que não são totalmente integrados com a disciplina. “Com esses professores o aluno, logo no início, começa a pegar ranço pela matemática, que acaba virando um trauma, um bloqueio que evolui a cada ano que passa, até chegar ao nível da fase adulta que ele dá por perdido, acha que nunca vai aprender. É aí que eu entro, e o primeiro passo é destruir esse bloqueio para eles aprendam os conteúdos dos concursos”, afirmou.

Por Marilena Freitas

SupCom/ALE-RR