O trabalho voluntário é uma atividade não remunerada realizada com fins sociais, que traz benefícios para o indivíduo e a sociedade
Para Marcelo Pimentel, presidente e fundador da Associação Mistura do Bem, as datas festivas têm um significado que vai além das comemorações. Desde 2015, a organização atende famílias em situação de vulnerabilidade em Roraima, levando não apenas alimentos, mas também esperança e momentos de alegria.
“Ser voluntário é atender às expectativas do próximo. É dedicar uma parcela do seu tempo para ajudar quem precisa”, afirma Marcelo, que lidera ações especialmente no período do Natal, Páscoa e Dia das Crianças.
Com 75 voluntários ativos, a iniciativa já beneficiou mais de dez mil famílias, distribuindo cestas básicas, brinquedos e doces em diversas localidades do Estado. “Já percorremos diversos municípios, e agora estamos de volta à capital com a meta de atender cem famílias em Boa Vista. Queremos realizar uma edição incrível do nosso 9ª Natal Solidário”, adianta o presidente.
As doações são realizadas via Pix ou pelo sistema de Disque Coleta, acessado pelo Instagram @misturadobemrr, onde é possível encontrar orientações sobre como se tornar parceiro ou voluntário. “Todos podem ser voluntários, basta querer. Seja doando tempo ou alguma contribuição, toda ajuda é bem-vinda”, reforça Marcelo.
Valorização e benefícios
O trabalho da Mistura do Bem, assim como o de outros voluntários no Estado, ganhou ainda mais visibilidade com a aprovação da Lei nº 1.492/2021, de autoria do deputado Soldado Sampaio (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), que instituiu a política de valorização ao serviço voluntário e o Dia Estadual do Voluntário, comemorado nesta quinta-feira (5).
“O voluntariado é uma força que impacta positivamente nossa sociedade, e a lei foi criada para fortalecer essa rede de solidariedade. O povo roraimense é solidário por natureza. Veja, por exemplo, como acolhemos os venezuelanos e todos aqueles que vêm para Roraima em busca de uma vida melhor”, explica Sampaio.
A lei trouxe avanços importantes para o voluntariado, garantindo benefícios como:
• meia-entrada em eventos culturais, esportivos e educativos para inscritos no Cadastro Estadual de Voluntários (CEV);
• isenção de taxas em concursos públicos estaduais;
• uso das horas de trabalho voluntário como critério de desempate em concursos públicos.
Além disso, prevê a Carteira de Identificação do Voluntário (CIV), emitida pela Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), que formaliza a atuação dos voluntários, devendo ser renovada anualmente.
Impacto psicológico
O voluntariado vai além da assistência material. Segundo a psicóloga Arieche Lima, do Núcleo de Saúde da ALE-RR, os reflexos das ações solidárias são profundos e multifacetados.
“Os reflexos emocionais são diversos, atuando no senso de gratificação, utilidade, pertencimento social e realização pessoal. A pessoa pode até mesmo descobrir aspectos sobre si mesma, como o que gosta e o que faz sentido em sua vida, a partir desse momento de ação solidária”, elenca a especialista.
O envolvimento nessas ações pode ser emocionalmente desafiador. Nesse sentido, a psicóloga aconselha a ter consciência dos próprios limites e buscar equilíbrio. Escutar ativamente quem está sendo ajudado e compartilhar experiências com outros voluntários são formas de manter a saúde mental durante essas atividades.
Para aqueles que desejam iniciar no voluntariado, mas têm receio de não estarem preparados, Arieche recomenda começar com pequenas ações pontuais ou participar de campanhas sazonais, uma vez que pequenos gestos já fazem a diferença e permitem que o voluntário se adapte gradualmente.
“Por exemplo, doar uma peça de roupa guardada no armário pode parecer algo pequeno para quem doa, mas, para a pessoa que recebe, pode significar muito: pode ser a roupa que ela usará no Natal, em uma formatura ou em sua primeira entrevista de emprego. Ter essa reflexão é fundamental. Devemos fazer o que está ao nosso alcance, lembrando que mesmo as pequenas ações podem ser transformadoras e causar um grande impacto”, sugere.
As palavras da psicóloga encontram ressonância na trajetória de Marcelo. Para ele, o voluntariado vai além de uma simples ação solidária — é uma jornada de autodescoberta e realização pessoal, marcada pelo ato de doar com qualidade, empatia e carinho.
“Ser voluntário, como sempre digo, é doar uma parcela do seu tempo e gostar do que faz. Acredito que isso já nasce conosco, esse dom de querer ajudar o próximo. E não é necessário estar vinculado a uma instituição para começar. Você pode iniciar dentro de casa, doando o que está sobrando. Quem precisa, gosta de receber aquilo que nós mesmos gostaríamos de ganhar. Então, se você tem uma roupa ou calçado em boas condições, doe. Fazer essa ação no Natal, com certeza, será de grande valia e fará a diferença na vida de muitas pessoas”, conclui o voluntário.
Texto: Suellen Gurgel
Fotos: Marley Lima/ Nonato Sousa
SupCom ALE-RR