“A dor era tanta que eu faltava por dias a escola”, relatou Ana Cláudia Hage.
Sentir cólicas terríveis não é normal, mas também não é frescura, como muitos consideram. A jornalista Ana Cláudia Hage é portadora da endometriose, doença considerada a principal causa de infertilidade no sexo feminino, que atinge cerca de 10 milhões de mulheres só no Brasil. Para alertar e sensibilizar esse público sobre os sintomas e as causas da doença, centenas de mulheres participaram na manhã deste sábado, 25, da campanha Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose, evento que Roraima participa pela primeira vez. Atividades foram realizadas no Centro de Boa Vista.
Ana Cláudia contou que desde a primeira menstruação, aos 12 anos de idade, sentia muita cólica (dor na região pélvica, provocada pela liberação da prostaglandina, substância que faz com que o útero contraia a eliminação da camada interna do útero em forma de sangramento). “A dor era tanta que eu faltava por dias a escola. Na fase adulta também cheguei a faltar o trabalho porque não conseguia realizar as atividades diárias, sem contar com a irritação”, relatou.
A jornalista contou que descobriu ser portadora de endometriose há quatro anos, após fazer alguns exames de ressonância magnética. “Eu suspeitava ter endometriose porque tenho uma prima com essa doença. Pesquisei sobre o assunto, porque não era normal, me sentia muita mal, irritada, com dificuldade pra engravidar. Busquei saber e entender o que era essa doença e acabei descobrindo”, disse Ana Cláudia.
Em 2016 a jornalista fez o exame completo e foi detectado que ela tem vários focos em vários órgãos do corpo. Para amenizar as fortes dores, Ana Cláudia contou que faz um tratamento com medicamento, embora haja indicativo de cirurgia. “Estou decidindo se faço a cirurgia, pois é muita cara, além da dificuldade de um especialista no Brasil que é bem complicada”, disse. Enquanto não se decide, Ana controla a doença com alimentação porque, segundo ela, alguns alimentos são mais inflamatórios e, por conta disso, causam mais dores.
Pesquisas comprovam que alimentos como cafeína, chocolate, margarina e carboidratos refinados devem ser reduzidos. Na lista de alimentos proibidos estão produtos de soja e que contenham fitoestrogênios, os alimentos contaminados por dioxinas (porque podem aumentar o risco de desenvolvimento de endometriose) e as gorduras saturadas, as trans ou as hidrogenadas que podem aumentar processos inflamatórios no organismo.
Ana Cláudia recomenda que mulheres que sentem muitas dores no período menstrual, procurem um especialista na doença. “Muitas vezes, as mulheres procuram apenas o ginecologista de sempre, aí começam a fazer uma cirurgia atrás de outra e não conseguem o diagnóstico completo. Busquem informações sobre a doença, façam exames, e procurem ter o diagnóstico completo e controlar essa doença para ter uma qualidade de vida melhor”, orientou.
Quanto mais cedo o diagnóstico da doença, melhor será o tratamento
Só as mulheres que sofrem de endometriose sabem o quanto a dor provocada por ela é uma tortura. Além das cólicas e desconfortos, a doença causa o refluxo do sangue menstrual, inflamando diferentes partes do corpo.
A coordenadora da campanha Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose em Roraima, Nathália Santos Veras, explicou que quanto mais cedo se tem o diagnóstico melhor será o tratamento, evitando assim a retira de órgãos do corpo da mulher. “Eu digo isso, mas sei que é um diagnóstico é muito difícil, porque muitas vezes não aparece em um exame de imagem. Crescemos acreditando a cólica menstrua é normal. Então, muitas vezes, a mulher vai ao médico e ele pergunta se tem alguma coisa acontecendo e ela diz que não, porque acredita a forte dor é normal, mas não é”, alertou.
Nathália disse que no mundo o diagnóstico de endometriose é retardado, levando uma média de 7 a 12 anos para ser dito que a mulher tem endometriose. “Precisamos divulgar o que é essa doença e seus sintomas, para que as mulheres possam buscar ajuda”, ressaltou, dizendo ainda que é preciso desmistificar a ideia de que a gravidez cura a endometriose, o que não é verdade. “Tirar o útero não cura essa doença, porque a endometriose não é uma doença do útero. O endométrio se desenvolve em outros órgãos, como ovário, rins, bexiga. Em casos raros dá no cérebro, no pulmão e em qualquer lugar do corpo”, afirmou.
Quanto ao tratamento, um dos mais comuns, segundo Nathália, é o uso do anticoncepcional, mas a mulher tem preconceito contra esse medicamento, porque ela acredita que só serve para evitar a gravidez. Mas não, serve para tratar inúmeras doenças. Outro tratamento muito comum é a cirurgia, sendo que a mais indicada é a videolaparoscopia que, infelizmente, no Brasil só é feita pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em três estados e em Roraima não se faz nem em hospital particular. “Esse é um grande problema, mas sempre é importante procurar um médico, pois temos médicos excelentes no nosso Estado, que podem indicar o melhor tratamento”, frisou.
Nathália comentou que é preciso lutar pelo reconhecimento da endometriose como doença social, para facilitar o acesso dessas mulheres, por exemplo, ao TFD (Tratamento Fora do Domicílio). “Aqui em Roraima se faz a cirurgia aberta, mas não é a mais recomendada. A mais indicada é a videolaparoscopia, pois é a que consegue preservar mais os órgãos da mulher”, disse.
Atendendo a um pedido das deputadas Lenir Rodrigues (PPS) e Maria Helena Veronese (PSB) que lutam pela criação de uma lei federal que transforme a endometriose em doença social, e o tratamento seja feito pelo SUS, o deputado Jorge Everton (PMDB) participou do evento na manhã deste sábado. O parlamentar disse que a endometriose tem feito muitas mulheres sofrer, porque não têm atendimento adequado. “O SUS disponibiliza a histerectomia, uma cirurgia que mutila as mulheres e não resolve o problema”, comentou.
Segundo ele, é preciso que a luta por uma lei federal que venha garantir o direito ao tratamento da mulher com endometriose deva ser de todos. “Eu também abraço essa causa para livrar as mulheres desse sofrimento. Precisamos da união de todos, para conscientizar o Governo Federal e os congressistas da importância de se ter uma lei que ampare as mulheres com exames, diagnóstico e tratamento da endometriose”, finalizou Jorge Everton.
Por Edilson Rodrigues
SupCom/ALE-RR