Desde a segunda-feira, 19, os corpos docente e discente da escola trabalham o Tráfico Humano como tema central da capacitação.
A semana foi diferente para os alunos de ensino médio da escola estadual Maria dos Prazeres Mota, localizada no bairro Santa Tereza, na zona Oeste de Boa Vista. A unidade foi a primeira a receber o projeto ‘Educar é Prevenir’, da Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Roraima. Nesta sexta-feira (23), aconteceu a culminância com uma série de palestras com autoridades convidadas. A programação se estenderá para o período da tarde, das 16h às 18h.
Desde a segunda-feira, 19, os corpos docente e discente da escola trabalham o Tráfico Humano como tema central da capacitação. Estiveram presentes representantes da Sociedade Civil Organizada, do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME), da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Secretaria Estadual do Trabalho e Bem Estar Social (Setrabes), entres outros.
A coordenadora do Núcleo de Promoção, Prevenção e Atendimento às Vítimas Mulheres de Tráfico de Pessoas, da Procuradoria Especial da Mulher, Socorro Santos, abriu as palestras. Falou que o projeto é uma forma de empoderamento dos alunos e servidores para terem um olhar diferenciado para questões do tráfico, principalmente para fins de exploração sexual. “Reforçar a escola com informação para que possam, os professores e os adolescentes, terem essa linha de trabalho dentro da escola. Saiba lidar, saiba como fazer, saiba orientar, essa é a nossa grande meta dentro do projeto”, explicou.
Socorro alertou sobre a realidade de Roraima que faz parte de uma rota internacional de tráfico de pessoas, por isso, a necessidade de trabalhar o tema dentro da sala de aula. Adiantou que na próxima semana, a programação ganhará outras formas para que outras escolas sejam atendidas no mesmo molde. Ela avaliou, de forma positiva, a primeira semana de trabalho e com essa experiência o Núcleo pretende aperfeiçoar ainda mais as ações. “Esse momento é ímpar para que possamos melhorar para os outros encontros, nas outras escolas”, complementou.
A integrante do Comitê Estadual de Enfrentamento ao Abuso, Exploração Sexual e Tráfico de Crianças e Adolescentes, Ivone Salutti, salientou que a realidade de Roraima é preocupante e que as autoridades não estão atentas ao problema. “Não se interessam pelo problema. Hoje quem trabalha sobre o tráfico é a sociedade civil e agora a Procuradoria, através do Chame”, destacou, comentando sobre a rota caribenha do tráfico humano, no qual o Estado está inserido, através da rodovia (Boa Vista/Manaus, Boa Vista/Lethem e Boa Vista/Santa Elena de Uairén).
Essa capacitação dos alunos e professores, e toda equipe pedagógica da escola, tem sido um foco de persistência do Comitê. “A gente colocava para as autoridades a importância da educação estadual e municipal tivesse um trabalho como esse, mas, infelizmente, as autoridades não tem esse interesse, é preciso que venha uma entidade, se interesse pelo assunto porque isso que está acontecendo aqui é da maior importância”, finalizou.
Alunos criam peça teatral para ilustrar os perigos do tráfico de pessoas
Ao som da música latina ‘Despacito’, os alunos do terceiro ano do ensino médio da escola Estadual Maria dos Prazeres Mota, retrataram uma das prováveis situações do tráfico de pessoas. Um grupo de pessoas se encontra numa boate e começa a dançar. E com o envolvimento da dança, as meninas nem percebem, mas estão na mira de traficantes que as seduzem e sequestram, levando as jovens, com as cabeças baixas para não olharem o caminho percorrido, para um carro.
Ao chegarem a um destino ignorado, as meninas são jogadas ao chão e sofrem com a violência e humilhação. Neste momento, elas recebem placas de vendas e são apresentadas como se fossem produtos em uma vitrine. Um homem entra com uma maleta com dinheiro e puxa uma delas, contra a vontade.
Mas a polícia chega para acabar com a situação e todos são rendidos e presos, e as vítimas liberadas. “Mas nem sempre essa situação acaba com final feliz e nós temos que dizer ‘Não ao tráfico humano’”, disse uma das alunas.
A encenação teve três dias de ensaio e muitos aplausos como resultado. Uma das vítimas na encenação era a estudante Vanessa Martins Nojosa, que tirou da experiência um alerta: não confiar em todos à sua volta. “A gente não tinha tratado sobre isso antes [tráfico de pessoas] e serviu para deixar a gente em alerta com relação às amizades. Mostramos que não são só prostitutas que sofrem com isso, são alunos e são os próprios amigos que te levam para esse caminho”, contou.
Um dos personagens que encenou um traficante foi João Lucas, de 16 anos. “Não são só as mulheres que são sequestradas, os homens também para tráfico de órgãos. Fomos bem comprometidos com a peça”, destacou.
A gestora da escola, Ivone Sobrinho, se disse feliz pela oportunidade da instituição receber esse tipo de projeto para se trabalhar com os alunos. “Educar eles quanto a essa situação que acontece em nossa cidade. O projeto é importante e trouxe informações para nossos alunos”, frisou.
Por Yasmin Guedes
SupCom/ALE-RR