Mais do que comemorar o Dia Internacional da Mulher, lembrado nesta quinta-feira, 8 de Março, a Escola Municipal Tia Toquinha, localizada no bairro Cidade Santa Cecília, transformou a data em uma manhã de reflexão e de transmissão de conhecimentos sobre os direitos conquistados pelas mulheres. A gestora da instituição, Eliza Tavares Silva, convidou o Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher), da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima (ALERR), para ministrar uma palestra abordando a violência doméstica.
E o que levou a gestora a pedir a palestra do Chame? A resposta está estampada nos índices de violência praticados contra mulheres no mundo, e em especial no Brasil, em que Boa Vista é destaque nos registros de feminicídio. “Resolvi convidar o Chame por indicação de uma professora, haja vista que a escola também tomou conhecimento de um caso de violência. O aluno que presenciou a agressão contra a mãe passou a ter comportamento diferenciado, o que acabou nos chamando a atenção e, ao investigarmos, ele acabou nos relatando. Por isso resolvemos trocar as dinâmicas e brincadeiras pela palestra, uma vez que a escola atende um público carente e esse tipo de informação poderá abrir muitas mentes, deixando-o mais atento com relação ao assunto”, contou.
A professora que indicou a palestra do Chame, Maria da Guia Sousa Mendes, 40 anos, reconhece que o papel do Centro é fundamental para criar uma sociedade mais informada e equilibrada no respeito à questão de gênero. “Conheci o Chame na sede do município do Cantá durante uma palestra. Defino o Chame como uma proposta de veículo transformador, que mostra para as mulheres que elas têm que se apoderar da sua vida, sem permitir que os agressores, que as pessoas que estão no seu entorno, tomem posse disso para asfixiar o desejo de cada mulher. Para mim o papel do Chame é importante nesta perspectiva”, avaliou, ao sugerir que o Chame desenvolva esse trabalho nos vilarejos e nas comunidades indígenas, onde a informação ainda é mínima.
A assistente social do Chame, Suzana França, disse que a entidade já atendeu cerca de 70% das comunidades indígenas e que o trabalho da instituição é apresentar os mecanismos que quebram os paradigmas que culminam na violência contra a mulher. “Nas palestras do Chame mostramos os tipos de violência praticados contra as mulheres como a patrimonial, cibernética, moral, sexual e o relacionamento abusivo. Falamos ainda sobre os direitos conquistados como a Lei Maria da Penha e os suportes que são dados pela instituição às mulheres em situação de violência, como devem agir e quais órgãos procurar para denunciar os agressores”, explicou.
A dona de casa Izani da Silva Bezerra, 28 anos, já presenciou a violência doméstica praticada dentro de casa. O caso foi tão grave que culminou em um homicídio. A situação trágica trouxe um aprendizado e a fortaleceu na defesa de seus direitos, ao ponto de não ter dúvida de como agiria diante de uma agressão.
“Imediatamente denunciaria. Procuraria todos os meus direitos em qualquer lugar, e também nas redes sociais para que essa pessoa ficasse bem conhecida. Não adianta só registrar um Boletim de Ocorrência, porque muitas das vezes não dá em nada, abafa-se o caso e fica por isso mesmo. Eu usaria as redes sociais porque o povo, as pessoas têm poder. Do mesmo jeito que tem o poder para fazer uma corrente para ajudar alguém, também tem o poder para manter a pessoa na cadeia, porque é o único lugar que o agressor merece é a cadeia”, afirmou Izani.
Leonardo de Oliveira da Silva, pai de um dos alunos da escola, tem um posicionamento firme com relação a quem agride mulheres. “É um covarde! Mulher é para ser acarinhada, bem tratada. Tem homens que chegam a casa e não tem nada feito, aí brigam, batem na mulher. Está errado, acho que tem que ter mais justiça para mulher, porque o homem já tem demais”, disse.
Quem também compartilha da mesma opinião é Sebastião da Silva Oliveira, 42 anos, casado e pai de seis filhos. Ele foi à escola deixar a mulher e acabou assistindo a palestra do Chame. “Essa palestra é muito importante e os homens deveriam assistir para conhecer mais. As mulheres têm que denunciar as agressões, procurar a delegacia mais próxima. Atualmente o que mais vemos nos jornais são homens matando mulheres, muitas vezes por não aceitarem a separação. Isso é muito errado porque também está dando um mau exemplo para os filhos, que com o tempo vão para o mau caminho”, opinou.
Por Marilena Freitas
SupCom/ALE-RR