Na maioria das vezes disfarçado como promessa de uma vida melhor, o tráfico de pessoas é um crime silencioso, que pode passar despercebido. Esta prática é caracterizada pela “comercialização” de seres humanos como mercadorias, seja para: exploração sexual, trabalho escravo, servidão, remoção de órgãos ou adoção ilegal. Estar atento a detalhes pode ajudar na identificação desta conduta.
Nem sempre o tráfico humano ocorre com emprego de violência ou de forma forçada. Na maior parte dos casos, o crime começa com a promessa de realização de um sonho: um pedido de casamento que pode mudar a vida da pessoa, a oferta de um emprego ou a chance de seguir uma carreira de modelo ou de jogador de futebol. Somente quando o sonho vira pesadelo é que as vítimas percebem que foram alvos de aliciadores.
No primeiro semestre de 2019, o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Tráfico de Pessoas, da Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa, registrou nove casos deste tipo de tráfico, seis deles com vítimas transexuais venezuelanas.
De acordo com Yago Django, coordenador interino do Núcleo de Promoção, Prevenção a Atendimento às Vítimas de Tráfico de Pessoas, da Assembleia Legislativa, prestar atenção nos relacionamentos das pessoas próximas pode ajudar a evitar o crime.
Existe, por exemplo, a situação conhecida como a “Armadilha de Romeu”, na qual o criminoso oferece oportunidades à família, com intuito de conseguir levar a pessoa para ganhar a vida em outra localidade. “É uma relação supostamente amorosa, com um cara aparentemente com uma boa índole, bem vestido. Ele promete uma viagem, mas na verdade é uma enrascada”, alertou Yago.
Atitudes suspeitas
Para ajudar a identificar cenários de risco, o coordenador explica que é preciso ficar atento a atitudes suspeitas da possível vítima, como a pesquisa inesperada por passagens aéreas ou terrestres, a pressa para arrumar malas, pouca informação sobre determinada proposta, seja ela de emprego ou até mesmo de um envolvimento amoroso, ou ainda poucas informações sobre quem a fez. “Isso é possível através de muito diálogo. Questionar quem é a pessoa que está contratando, como a conheceu, em que lugar?”, aconselhou.
Após detectada uma atitude suspeita, o próximo passo é disponibilizar informações para que as pessoas tenham conhecimento do crime e de como denunciá-lo. O Núcleo de Combate ao Tráfico Humano, da Assembleia Legislativa, trabalha de maneira preventiva com ações que levam informação à população sobre o assunto, além de oferecer atendimento jurídico e psicológico, acolhimento da vítima e encaminhamento de denúncias para os órgãos competentes. “Essas políticas públicas são uma arma a mais para que essas pessoas sejam alertadas”, ressaltou Django.
A população pode realizar as denúncias pelo disque 100 ou 180 (Direitos Humanos), ou pode procurar o Núcleo, localizado na sala 208 do prédio da Procuradoria Especial da Mulher, localizado na avenida Ville Roy, nº 5717, no Centro. Mais informações também pelo telefone 3624-8073.
O que fazer para enfrentar o tráfico de pessoas?
A prevenção é sempre a melhor iniciativa. Portanto, ao verificar que existem indícios de tráfico humano, dê as seguintes orientações:
1) Duvide sempre de propostas de emprego fácil e lucrativo.
2) Sugira que a pessoa, antes de aceitar a proposta de emprego, leia atentamente o contrato de trabalho, busque informações sobre a empresa contratante, procure auxílio da área jurídica especializada. A atenção é redobrada em caso de propostas que incluam deslocamentos, viagens nacionais e internacionais.
3) Evite tirar cópias dos documentos pessoais e deixá-las em mãos de parentes ou amigos.
4) Deixe endereço, telefone e/ou localização da cidade para onde está viajando.
5) Informe para a pessoa que está seguindo viagem endereços e contatos de consulados, ONGs e autoridades da região.
6) Oriente para que a pessoa que vai viajar nunca deixe de se comunicar com familiares e amigos.
Texto: Bárbara Araújo
Foto: Alex Paiva
SupCom ALE-RR