Aprender um idioma, fazer um curso de capacitação ou treinar um esporte, já foi uma realidade distante para moradores de Caracaraí, no sul de Roraima. Isso mudou em 2017, quando a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) inaugurou um núcleo na região. Em dois anos de funcionamento, comemorados nesta terça-feira (17), mais de 5 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos, tiveram acesso à educação, arte, esporte e lazer, gratuitamente.
O núcleo possui um leque de atividades para os moradores, ofertados pelos programas permanentes do Poder Legislativo, como o Abrindo Caminhos, que oferta balé, futebol, coral e taekwondo para 626 crianças e adolescentes atualmente. Desde 2017, foram realizados mais de 1.920 atendimentos pelo programa. A unidade também leva futebol para a vila de Vista Alegre, que fica a 20 quilômetros da sede de Caracaraí.
Na parte de cursos de aperfeiçoamento profissional, a Escola do Legislativo leva aulas de informática, inglês, espanhol, com turmas para os pequenos e os adultos, além de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais), recreação infantil e primeiros socorros, totalizando 2.272 atendimentos. Também são ofertados outros cursos conforme a demanda da população, como preparatório para concursos, vestibulares, e oficina para confecção de bolo de pote, atividades que contaram com 1.043 participações.
A coordenadora do núcleo, Vaninha Andrade, explica que as atividades da instituição estão contribuindo para o desenvolvimento do município, ao relatar que muitos alunos da Escola do Legislativo, ao terem o certificado nas mãos, conseguiram um emprego. Ao mesmo tempo, o Núcleo está mudando a realidade de crianças e jovens. “Conseguimos tirar muitas crianças da ociosidade. Quando elas não estão na escola regular, estão aqui praticando algum esporte ou fazendo um curso de capacitação”, disse.
E quando se trata de direitos, a população ainda pode contar com o Procon Assembleia que presta orientação sobre os direitos do consumidor, com 91 atendimentos em dois anos. A comunidade também pode contar com o Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher), que presta acolhimento às vítimas de violência doméstica. Atualmente a unidade está em recesso, com a previsão de retornar com as atividades no mês de março.
Aulas de balé ajudam criança com autismo na interação social
A menina Bianca Lima, de 6 anos, foi diagnosticada com grau leve de autismo com um ano e meio de idade, quando a avó percebeu um comportamento diferente da neta no dia a dia. Ainda nessa idade, a menina já andava, porém parou de falar. “Ali caiu o meu chão, não sabia o que fazer”, relembra a mãe de primeira viagem, Jaqueline Lima, quando recebeu a notícia do médico. Ela desconhecia a palavra autismo.
Como Bianca apresentava dificuldades para se comunicar e interagir em casa e na escola, desde cedo necessitou de acompanhamento de fonoaudiólogo e psicólogo. Nos últimos meses, a menina teve um outro apoio: a dança. Há três meses ela treina balé no programa Abrindo Caminhos, uma das modalidades mais procuradas pelos moradores. Para a mãe, Jaqueline Lima, mesmo com pouco tempo da filha na modalidade, as mudanças são visíveis. “Podemos ver quando ela chega na escola e abraça os amigos. Ela não fazia isso, o abraço era vergonhoso e tímido. Agora ela já consegue falar algumas coisas. É pouco tempo de aula, mas influencia muito mesmo”, disse.
Mas antes destes resultados, a mãe desabafa que estava com medo de matricular a filha no balé, pois para quem possui autismo, é um desafio permanecer em uma sala fechada com um som alto. Para ajudar nessa adaptação, a professora de balé, Isys Costa, preocupada em acolher a menina, nas primeiras aulas suspendeu o som, e apenas ensinava as coreografias. “É uma aluna maravilhosa e muito inteligente. Em alguns dias, as aulas são do jeito dela. A gente adapta para ela, às vezes ela gosta do som alto, outra vezes não gosta do barulho. Sempre temos um cuidado especial com ela”, explicou.
Após curso da Escola do Legislativo, aluno presta socorro à vítima em acidente de trânsito
Neste ano, um dos cursos de capacitação com grande procura pela população em Caracaraí foi o de primeiros socorros, modalidade ofertada pela primeira vez. Com uma turma de 46 pessoas, um dos alunos foi o técnico administrativo Luiz da Costa, de 24 anos.
Com pouco tempo de formação nos primeiros socorros, o jovem já colocou em prática o que aprendeu na sala de aula, para ajudar uma pessoa em situação de emergência. Ele presenciou um acidente de trânsito ao voltar para casa, de noite. “Ajudei a imobilizar a moça que tinha deslocado o pé até chegar o Samu. Foi uma experiência incrível, porque o conhecimento que eu coloquei em prática, foi basicamente tudo o que o professor ensinou no curso”, relatou.
Ele buscou fazer o curso por dois motivos: primeiro porque prometeu que não perderia ninguém por falta de conhecimento. “Tive a perda de um colega, em uma social com amigos no período da escola. Teve um afogamento, infelizmente por não saber proceder no momento, perdermos esse colega, que veio ao óbito algum tempo depois, e prometemos na roda de amigos que não faltaria mais com o conhecimento”, relembrou.
O outro motivo é porque surgiu uma oportunidade para o jovem trabalhar no hospital, e uma das exigências foi a busca por aprimoramento em cursos na área da saúde. “Foi uma área que bastante me tocou, e parabenizo toda a equipe da Escola do Legislativo por estar sempre lutando e buscando novas áreas para a gente, já modificou os meus olhos com relação ao futuro, e vai modificar a vida de bastante gente”, disse.
Texto: Vanessa Brito
Foto: SupCom ALE-RR