Cerca de 60 adolescentes, entre jovens, pais de famílias e agentes de segurança, moradores da Comunidade Malacacheta, no município de Cantá, participam nesta terça (11) e quarta-feira (12) do primeiro módulo do curso de multiplicadores “Exercendo Cidadania nas Comunidades Indígenas”, promovido pelo Programa de Direitos Humanos e Cidadania (PDHC) da Assembleia Legislativa de Roraima.
“A nossa primeira capacitação do ano é diferente, pois é voltada para o jovem indígena. Ela foi requisitada pelas lideranças da Serra da Lua. E os assuntos abordados, como gravidez na adolescência, automutilação e alcoolismo estão de acordo com o que os líderes levantaram e viram de maior necessidade”, explicou, na abertura do evento, a presidente do programa, a parlamentar Lenir Rodrigues (Cidadania).
Jucileia Teixeira, organizadora da capacitação e coordenadora do Centro de Apoio e Assuntos Indígenas (CAAI), vinculado ao PDHC, diz que a ideia é que o conhecimento adquirido seja compartilhado com a comunidade. “Quem participar, poderá passar os ensinamentos dos cursos para outras pessoas das comunidades indígenas e até mesmo nas escolas”, ressaltou.
A população da região tem cerca de 10 mil habitantes distribuídos em 21 comunidades, onde predominam as etnias Wapichana e Macuxi. Para o coordenador da Serra da Lua, Clóvis Ambrósio, ativista da luta indígena desde a década de 1970, a juventude do local cresceu e os hábitos mudaram. Para ele, cursos direcionados são uma forma de garantir o legado e criar formas de se comunicar com a nova geração.
“Faço parte do movimento indígena desde 1974 e vejo que a nova geração aumentou. Mas muitos não querem obedecer aos pais e às orientações das lideranças. Então, esses cursos com a participação do jovem vão ser muito bons para a gente ter mais força na comunidade com relação a orientações, porque antes só nós, velhos, falávamos e eles podiam dizer: ‘esse velho está ficando doido’. Agora, com essa oportunidade, podem conhecer quais direitos têm por meio de outros jovens”, avaliou.
Ciclo de palestras
Uma plateia atenta acompanhou o ciclo de palestras sobre adolescência, gravidez precoce, automutilação, depressão, suicídio, autoconhecimento, direitos e deveres indígenas. A semente multiplicadora da capacitação foi ao encontro das situações vivenciadas, como a falta de educação sexual e planejamento familiar, na Comunidade do Canauanim, onde vive Lilian Cadete da Silva, 15 anos, da etnia Wapichana.
“De todos os temas, gravidez na adolescência foi o que chamou minha atenção, pois no ano passado houve muitos casos na minha comunidade. Muitos deles, envolvendo crianças a partir dos 12 anos. Então, é muito importante para termos mais consciência”, revelou.
Alcineia Pinho é mãe de quatro filhas, com idades entre 13 e 23 anos. Vice-coordenadora da Comunidade do Campinho, da terra indígena Canauanim, ela também destacou a gravidez precoce e o suicídio como problemas de saúde pública enfrentados pelos jovens.
“Como mãe, me preocupo muito e levo essa preocupação para os nossos jovens. Na minha comunidade, como nas outras, a gravidez na juventude é grande. Assim como o suicídio, principalmente na Serra da Lua. Nós tivemos aumento considerável de suicídios de jovens”, lamentou.
As etnias indígenas apresentam costumes, crenças e línguas distintas, contudo independentes da cosmovisão e dos aspectos constitutivos de cada uma. O indígena, inevitavelmente, atravessará o processo de mudança corporal, comportamental e cognitivo da adolescência. Nesse sentido, de acordo com uma das palestrantes, a técnica de enfermagem Naiara Queiroz, as transformações devem ser informadas e discutidas sem tabus, ou seja, é preciso que haja um diálogo franco entre gerações diferentes para minimizar os fatores que põem em risco a passagem para uma vida adulta sadia.
“É importante a participação dos pais e dos adolescentes para eles saberem como tratar e como se comportar com os filhos, porque, às vezes, essa falta de comunicação pode retardar o amadurecendo deles, além de acarretar depressão, levar à automutilação e à gravidez indesejada”, alertou.
Segundo dia
Nesta quarta-feira, último dia de curso, o alcoolismo será o tema central. Serão abordados sintomas, tratamentos, causas e as consequências psicológicas. Após o encerramento do I módulo, os participantes terão direito a certificado gratuito, com carga horária de 16h. Ainda não há data definida para os módulos II e III.
PDHC
Voltado aos direitos humanos das minorias como política pública, o Programa de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa (PDHC) abarca o Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico de Pessoas (CPVTP); o Centro de Apoio à Pessoa com Deficiência (CAPD); Centro de Apoio e Assuntos Indígenas (CAAI) e o Centro de Incentivo às Mulheres na Política (CIMP).
Texto: Suellen Gurgel
SupCom ALERR
Fotógrafo: Jader Souza