A Procuradoria Especial da Mulher (PEM), da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), encerrou 2023 com um aumento significativo no número de atendimentos realizados no Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher), em comparação com 2022, que registrou 195. No total, foram 490 atendimentos, sendo 184 presenciais e 306 remotos. Já o Núcleo Reflexivo Reconstruir, que trata da remodelação de comportamento dos agressores, assistiu 77 homens.
De acordo com a diretora da PEM, Glauci Gembro, um dos motivos do crescimento foi a campanha de divulgação ostensiva de conscientização nas escolas e equipamentos públicos do Estado.
“Temos divulgado os canais de proteção, para que as mulheres saibam onde podem receber atendimento. Fizemos palestras nas escolas e para um grande número de adolescentes, nos órgãos públicos e indo para alguns municípios do interior. Essa conscientização faz toda a diferença, porque as pessoas, por falta de conhecimento, ficam em relacionamentos agressivos”, avaliou sobre as ações educativas que visitaram 36 escolas, atingindo aproximadamente 7.300 estudantes.
Para 2024, o objetivo da PEM é ampliar as campanhas preventivas aos outros municípios. “Considerando o aumento que houve na procura presencial, pretendemos levar isso para mais municípios e mais pessoas saibam onde procurar ajuda. O que temos percebido é justamente isso, quanto mais se fala de violência, quanto mais se mostra o canal de proteção, mais o número cresce aqui dentro”, revelou Gembro.
Presencial e remoto
Os atendimentos presenciais foram realizados no Chame, que oferece serviços multidisciplinares, como atendimento psicológico, social e jurídico. Entre os atendimentos, 51 foram relacionados à violência psicológica, 32 à violência física e 31 à violência moral.
Segundo a psicóloga do centro, Marcilene Lima, os números expressivos nos casos de violência psicológica não surpreendem, pois a vítima, muitas vezes, presa a um relacionamento abusivo, dificilmente consegue identificar a sutileza desse tipo de violência. Ela só percebe isso após uma escalada que culmina com a agressão física e a quebra da autoestima.
“As mulheres tendem a não identificar rapidamente a violência psicológica, porque entendem como normal, por exemplo, um tom mais alto de tratamento do parceiro. Elas não vão começar pela violência física. Quando começam a entender que estão sob uma violência psicológica, já estão em um estágio bem agravado. Ao procurar ajuda, muitas vezes, já se sentem extremamente afetadas. Então, no nosso trabalho, precisamos mostrar que ela deve enxergar a si mesma e amar-se mais do que o parceiro”, explicou a psicóloga.
Dos atendimentos pelo ZapChame (95 98402-0502), que oferece assistência por meio de aplicativo de mensagens de texto e áudio, 73 foram de apoio psicológico, 107 de assistência social e 78 de orientação jurídica.
Na avaliação de Lima, o expressivo número de atendimentos virtuais está relacionado ao fato de que a vítima pode ser atendida instantaneamente e não se sentir intimidada na hora de compartilhar sua história.
“Muitas vezes, a vítima tem vergonha e medo do atendimento presencial, por isso é importante essa ferramenta de ajuda no momento do calor do ato de violência em si. Já recebemos muitos pedidos de ajuda via WhatsApp no momento mesmo da agressão, e temos que intervir chamando a polícia”, disse Lima.
Além disso, entre as vantagens do atendimento remoto, que ocorre 24 horas por dia, está o fato de que os casos de violência reportados são recebidos com mais rapidez pela rede de proteção à mulher.
“Quando ligamos através do ZapChame para o 190, é identificado pelo profissional que está no momento do atendimento, e isso é completamente diferente porque eles percebem a seriedade do nosso trabalho. Assim, enviam a ajuda necessária e já despacham uma viatura mais próxima para a casa dessa vítima. Dessa forma, estamos totalmente atentos ao que está acontecendo dentro desse lar com essa família, buscando as providências necessárias para evitar casos e impedir que a situação se agrave”, afirmou a psicóloga.
Prevenção da reincidência
Além de ampliar as campanhas de conscientização para o enfrentamento da violência doméstica e para a promoção da igualdade de gênero, a PEM desenvolve ações diretas para prevenir a reincidência da violência. Um desses projetos é o Núcleo Reflexivo Reconstruir, que recebe homens encaminhados peço Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR) e de maneira voluntária desde 2016.
O núcleo oferece um programa de formação com duração média de quatro, seis meses ou um ano, de acordo com a medida fixada pela Justiça, abordando temas como masculinidade tóxica, abuso de álcool e drogas, violência doméstica e direitos das mulheres, entre outros.
Em 2023, o projeto teve 77 assistidos encaminhados pela Vara de Penas e Medidas Alternativas (Vepema). No fim do ano, 7 concluíram a medida alternativa.
“Para 2024, continuamos com 70 homens. Atendemos às terças-feiras, mas abrimos uma turma às segundas, pois o espaço não comportava a quantidade que a Vepema queria enviar para o grupo”, adiantou o psicólogo do núcleo, Jadiel Ribeiro.
Serviços da PEM
Os serviços (Chame e Núcleo Reflexivo Reconstruir) da Procuradoria Especial da Mulher são oferecidos na sede em Boa Vista, localizada na Avenida Santos Dumont, 1470, bairro Aparecida, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Os moradores de Rorainópolis e adjacências podem ser atendidos na Rua Senador Hélio Campos, sem número, BR-174, no mesmo horário.
O atendimento remoto é por meio do ZapChame no número (95) 98402-0502, que funciona 24 horas, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
Texto: Suellen Gurgel
Fotos: Eduardo Andrade/ Jader Souza
SupCom ALE-RR