Apenas um único doador de sangue é capaz de salvar quatro vidas. A matemática aparentemente favorável entre quem doa e quem recebe, esconde uma triste realidade, já que o número de pessoas que sofrem acidentes ou estão internadas por diferentes doenças e necessitam de transfusões sanguíneas é superior às doações.
Na prática, os hemocentros – as unidades responsáveis pela coleta de sangue e transporte para hospitais e centros de saúde – sofrem com estoques críticos. No Brasil, apenas 1,6% da população é doadora, quando o ideal é pelo menos o dobro desse patamar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesta direção, para alertar sobre os níveis dos bancos de sangue e estimular sentimento de solidariedade quanto à doação, o Ministério da Saúde (MS) criou a campanha nacional Junho Vermelho, em 2015. Em Roraima, a ação faz parte do Calendário Oficial de Eventos desde 2019, por meio da Lei nº 1.361/19, da deputada Yonny Pedroso (SD).
Ainda no mês de junho, o parlamento estabeleceu o dia 14 como o “Dia Estadual do Doador de Sangue”. Elaborada pelo deputado Jalser Renier (SD) e o ex-deputado Naldo da Loteria, a Lei nº 1.014/15 propôs que na data se promova palestras, propagandas e campanhas visando conscientizar a população e ampliar o acesso às ações de coleta e doação de sangue.
O presidente da Assembleia Legislativa (ALE-RR), Soldado Sampaio (PCdoB), ao falar do incentivo do legislativo nessas programações, afirma que a atividade parlamentar é um facilitador entre quem precisa e quem doa, especialmente ao mobilizar a sociedade neste período.
“A campanha Junho Vermelho é uma ação da Assembleia perante a sociedade, mobilizando o roraimense para esse ato de amor que é doar sangue. Isso é de grande relevância para essas pessoas que tanto precisam. Às vezes, muitos familiares, amigos e conhecidos estão nas filas de hospitais, das cirurgias e precisamos fazer com que essa acessibilidade chegue à sociedade”, declara.
Desde os anos 1990, a doação de sangue está em pauta não parlamento roraimense, ora abrindo o debate e acolhendo ações alusivas, ora conferindo benefícios e incentivos aos doadores. É o caso da Lei nº 167/1997, da ex-deputada Zenilda Maria Portella, que regulamentou a isenção do pagamento de taxa para inscrição em concursos públicos estaduais aos doadores.
Para usufruir deste direito, o doador apresenta no ato da inscrição a declaração fornecida pelo banco de sangue, comprovando a condição de doador regular, há no mínimo seis meses. Este é um dos incentivos para jovens como Michael Sousa Gomes, 25 anos, que doa regularmente há três anos.
“Sou doador há muito tempo, comecei a doar com 22 anos, e venho ao Hemoraima todas as vezes que é possível durante o ano. Uma das vantagens é conseguir isenção nos concursos públicos. Acredito que muitos doadores fazem por isso e ainda ajudam muitas pessoas que é o mais importante”, pontua Michael.
O intervalo de doação de sangue para homens é de 60 dias e para mulheres é de 90 dias. Entretanto, recomenda-se que o homem doe até quatro vezes por ano e a mulher até três vezes por ano. A gerente de Captação do Hemoraima (Centro de Hemoterapia e Hematologia de Roraima), Juliane Uchôa, esclarece que o procedimento é simples, rápido e pode ser facilmente encaixado na rotina do cidadão.
“O doador chega, faz o cadastro ou a atualização, passa por uma triagem, faz higienização das mãos e depois vai doar. Esse processo dura em torno de 10 a 15 minutos. Ao concluir, faz um lanchinho. O período todo dura em torno de 40 minutos no máximo”, explicou.
A gerente disse ainda que, além de célere, o procedimento é desburocratizado e obedece aos protocolos de segurança, principalmente neste momento de pandemia. “Para fazer a doação não precisa de agendamento, só é preciso do documento original com foto para o atendimento iniciar. É rápido e seguro, pois a gente na unidade toma todos os cuidados”, assegurou.
SEGURANÇA
E foi justamente para assegurar o controle de qualidade do sangue, hemocomponentes e hemoderivados nas unidades de saúde do Estado, que os deputados aprovaram a Lei nº 273/2000, de autoria da ex-deputada Suzete Mota. A lei preconiza o cumprimento das normas de saúde e sanitárias, tais como a realização dos testes diagnósticos mínimos e a adequada conservação do sangue e hemocomponentes.
Mesmo seguindo todos os protocolos de segurança e realizando campanhas sistemáticas, o Hemororaima sofre para manter os estoques, em virtude também de ser o único centro de referência do Estado, atendendo tanto as unidades de saúde pública quanto privadas. Por isso, de acordo com a gerente técnica da Unidade, Sumayka Veras, o maior desafio é a manutenção dos doadores regulares.
“O nosso maior desafio é fidelizar os doadores. O nosso estoque começa a cair, a gente faz campanhas, eventos. A gente consegue trazer mais doadores, mas demora três a quatro meses, que é geralmente o intervalo da mulher, do homem e os estoques baixam novamente”, afirma.
A fidelização desses doadores, para além de campanhas de sensibilização, perpassa à promoção de políticas públicas que têm efeitos práticos na vida do doador, inclusive orçamentários. É, por exemplo, o que promove a Lei nº 1.325/19, de autoria dos deputados Jalser Renier (SD) e Neto Loureiro (PMB).
A norma confere aos doadores regulares o direito ao pagamento de meia entrada (50% do valor do ingresso) em todos os locais públicos de cultura, esporte e lazer, mantidos pelas entidades e órgãos da administração direta e indireta, seja em teatros, museus, cinemas, circos, feiras e exposições, parques, pontos turísticos, estádios e quaisquer outras que proporcionem lazer, cultura e entretenimento.
Na mesma direção, de autoria do ex-deputado Célio Rodrigues Wanderley, a Lei nº 169/97 concede aos doadores cadastrados junto ao Hemocentro e nos Programas Sociais da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), os seguintes benefícios sociais: uma cesta básica; 20 vales-transportes e uma passagem em transporte intermunicipal, de ida e volta, no trecho Boa Vista, para a residência do doador; e exames ambulatoriais e hospitalares com prioridade no atendimento.
Há notadamente muito o que se avançar para atender a demanda de doações de sangue em Roraima, sobretudo, de incutir na sociedade a cultura da doação. Mas para quem ainda está na dúvida sobre a importância do ato, Juliane Uchôa é categórica ao afirmar. “Quem é doador tem dois lados, consegue ter as opções de doar ou não doar, mas quem está do outro lado como paciente só tem a opção de receber”, ressalta. E não custa lembrar que essa é uma conta que precisa fechar. Afinal, essa matemática salva as vidas.
Como ajudar o Hemoraima?
O único centro de captação e transporte de sangue e hemocomponentes de Roraima precisa, em média, de 140 doadores ao dia, a fim de manter o banco de sangue. Apesar de a Unidade contar com 66.337 doadores cadastrados, na prática, apenas um ¼ deste valor é atingido diariamente. Por isso, para estar apto à doação, além da vontade de ajudar ao próximo, é necessário gozar de um bom estado de saúde e seguir os seguintes passos:
- Estar alimentado. Evitar alimentos gordurosos nas três horas que antecedem a doação de sangue.
- Caso seja após o almoço, aguardar duas horas.
- Ter dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas.
- Pessoas com idade entre 60 e 69 anos só poderão doar sangue se já o tiverem feito antes dos 60 anos.
- A frequência máxima é de quatro doações de sangue anuais para o homem e de três doações de sangue anuais para as mulheres.
- O intervalo mínimo entre uma doação de sangue e outra é de dois meses para os homens e de três meses para as mulheres.
Texto: Suellen Gurgel
Foto: Marley Lima
SupCom ALE-RR