A Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) promoveu, nesta sexta-feira (1º), uma audiência pública para discutir pontos relevantes sobre a autonomia da gestante em decidir pelo parto normal ou cesárea. Iniciativa da deputada Tayla Peres (PRTB), o evento contou com vários relatos de mães que passaram por situações conflitantes na hora do parto e de profissionais da saúde expondo suas experiências dentro das salas de cirurgia. Um relatório da reunião será enviado aos setores responsáveis pela criação de políticas públicas.
Tayla Peres afirmou que atende a um antigo anseio de mulheres que passaram por dissabores durante o momento do parto. Segundo a parlamentar, a discussão precisa contemplar as opiniões da sociedade, garantindo à mulher as condições necessárias na hora de dar à luz, seguindo decisões responsáveis, tanto para o bem-estar da mãe quanto da criança. Ela ressaltou também a importância da discussão sobre o tema.
“Muitas mães me procuram com medo de não terem suas decisões atendidas e elas sofrem quando isso acontece. É preciso informar melhor a mulher sobre seus direitos e dados que mostram que a cesárea traz três vezes mais riscos para a mulher e a criança do que o parto vaginal”, observou.
A funcionária pública Cristiane Rodrigues foi uma delas. Mãe de quatro filhos, ela relembrou as experiências traumáticas que teve em dois dos seus partos. “Fui mãe aos 18 anos e não tive problema na primeira gravidez. Onze anos depois, tive outro filho, parto cesáreo. O resguardo é difícil, doloroso, sofri muito. Cinco anos depois, também foi cesárea, não sendo respeitada minha escolha. Tive quatro tromboses no pós-operatório. Convivo com dores em razão dessa sequela”, lamentou.
Pontos positivos e negativos dos partos e possíveis incidências de lesões e tromboses em mulheres submetidas à cesariana programada foram destaque na apresentação da obstetra e fetóloga de pré-natal de risco Cynthia Lins. Segundo ela, um estudo feito em 2020 na maternidade do Estado mostrou maior risco de trombose venosa profunda (17 casos), choque cardiogênico (17) e maior tempo de internação hospitalar (19), tudo isso comparado ao parto vaginal (normal).
“São dados relevantes e precisam ser analisados. Sabemos também que a presença de acompanhante, a satisfação com a evolução do processo de parto e o primeiro contato com o bebê mostram práticas de humanização do nascimento”, salientou.
Deputados ampliam discussões
O deputado Éder Lourinho (PTC) parabenizou a iniciativa. “O tema é de extrema importância e fico feliz com esse debate. Parabéns à deputada Tayla pela iniciativa. Estamos discutindo sobre a vida da mãe e da criança. Eu, como pai de quatro filhos e avô, cheguei aqui com um pensamento e hoje estou saindo com outro. Ouvi várias mãezinhas, profissionais da saúde com toda sua experiência e temos a certeza de que há muito o que se discutir sobre isso. Minha bandeira é a agricultura, mas, como deputado, preciso atuar em todas as áreas”, relatou.
O deputado Renan (Republicanos) afirmou que tem visitado com frequência a maternidade e conhecido de perto as dificuldades dos profissionais da saúde com a lotação do hospital, e mostrou preocupação com a situação na unidade de saúde. “Vejo que os médicos, às vezes, passam desespero em escolher por parto normal ou cesárea. É preciso ter um acompanhamento durante a gravidez. E cerca de 70% das mães que passam pela maternidade, chegam lá sem terem esse pré-natal e, a maioria delas, são venezuelanas”, disse.
A deputada Catarina Guerra (SD) ressaltou a importância do debate. “Buscar a garantia de direito da mãe na hora do parto é muito pertinente. O direito de escolha precisa ser levado em consideração, assim como a decisão e opinião médica. Tive essas possibilidades nas minhas duas gestações e tive que respeitar a decisão médica, mesmo não sendo a que optei. Por isso, a relevância dessas discussões”.
O deputado Nilton Sindpol (Patri) também esteve presente no evento.
Participantes
A audiência contou com a presença de representantes da secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), e da secretaria de Estado da Saúde; Conselho Regional de Medicina (CRM-RR) e coordenação do curso de Medicina da UERR (Universidade Estadual de Roraima); presidente da Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)-Seccional Roraima, Maria do Rosário Alves Coelho; diretora do Centro de Referência da Saúde da Mulher, Marília Pinto; presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de Roraima, Eugênia Glaucy Moura Ferreira; presidente da Sociedade Roraimense de Pediatria, Mareny Damasceno Pereira; da fisioterapeuta Pélvica Maria Gleisilene Ponte Peres; representante da diretora da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, Iza Mafalda Costa Colombiano; obstetra e fetóloga Cynthia Dantas; coordenadora do curso de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Stella Maris Seixas Martins; coordenador do curso de Enfermagem da UFRR; coordenadora do serviço de anestesiologia do HGR (Hospital Geral de Roraima).
O evento ocorreu no Plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas e foi transmitido ao vivo pela TV Assembleia (canal 57.3), Rádio Assembleia (98.3) e redes sociais (@assembleiarr).
Texto: Kátia Bezerra
Foto: Jader Souza/Nonato Sousa
SupComALE-RR