Imigração em massa de indígenas da etnia Pemón para comunidades brasileiras tem preocupado lideranças, que querem pedir ajuda diretamente ao presidente
A imigração desordenada de índios venezuelanos da etnia Pemón para o Brasil fez lideranças indígenas da região de São Marcos, no município de Pacaraima, fronteira com a Venezuela, recorrerem à Comissão de Relações Fronteiriças da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE/RR). Em reunião realizada na tarde desta segunda-feira (18), ficou acertado que os parlamentares intermediarão uma audiência pública em Brasília para buscar uma solução imediata.
A presidente da comissão, Ione Pedroso (SD), afirmou que as lideranças trouxeram uma nova denúncia, agora sobre a imigração de índios para as comunidades indígenas de Roraima, mas ressaltou que o Legislativo já fez tudo o que lhe compete. “Vamos tentar uma audiência pública com o presidente da República, Jair Bolsonaro [PSL], com os deputados federais, a Funai [Fundação Nacional do Índio] e com a ONU [Organização das Nações Unidas], para que possamos trazer uma resposta para essa crise no Estado.”
Na ocasião o deputado Jeferson Alves (PTB) comentou sobre a possibilidade da criação de um Fundo Internacional de ajuda humanitária para auxiliar o Estado. Ele afirmou que os parlamentares estão analisando se a medida é viável. A ideia inicial é que ele seja gerido pelo Exército, para que vários países possam ajudar a Venezuela e Roraima. “A imigração venezuelana é um problema humanitário do mundo. Roraima não suporta mais. Estamos à mercê do Governo Federal, que até agora não mostrou se realmente vai ajudar o Estado a enfrentar essa crise”, justificou.
O prefeito de Gran Sabana, Emílio González, ressaltou que a realidade da crise está mudando com imigração da etnia Pemón, que no Brasilé a etnia Taurepang. “São aproximadamente mil indígenas que saíram da Venezuela por descaminhos, fugindo da guerra, e estão alojadas nas comunidades mais próximas. Não temos como receber esses indígenas sem a ajuda do Governo Federal”, disse.
Fronteira está vulnerável, afirma indígena Ta’rau Pau
Aldino Alves, tuxaua de Ta’rau Pau, comunidade a aproximadamente 1,2 quilômetros da fronteira Brasil/Venezuela, contou que os índios venezuelanos chegaram em massa na comunidade no dia 23 de fevereiro.
Além da infraestrutura precária para receber os indígenas, a maior preocupação dele é que, segundo conta, integrantes do grupo paramilitar Tupamaro – aliado ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro – tomaram conta do município da Gran Sabana. O temor é que eles adentrem o território brasileiro no período da noite junto com os indígenas.
“O medo hoje é que pior possa acontecer porque moramos próximo da fronteira, principalmente à noite, dos militares invadirem junto com os refugiados ou até atacarem os próprios indígenas que estão fugindo para o Brasil”, afirmou o tuxaua.
Segundo ele, os guardas indígenas territoriais ficam 24 horas vigiando a fronteira. “Temos as polícias Militar, Federal e o próprio Exército, mas como a demanda é grande e não tem condições de dar segurança 24 horas, a maior parte desta segurança é feita pelos índios brasileiros. A cada seis horas o Exército faz o patrulhamento”, explicou.
Com a chegada do inverno o tuxaua afirma que a comunidade pretende construir seis barracões para abrigar esses indígenas. “Estamos com 836 indígenas, bastante criança e idosos hipertensos. Estamos tendo dificuldade com a logística e a alimentação, o que tem afetado a nossa comunidade. Com o inverno chegando, a preocupação é como acomodar esses refugiados. Quem puder, ajude-nos levando lona ou telha para cobrir o barracão e acolher os nossos parentes”, pediu.
Texto: Marilena Freitas
Foto: Alex Paiva
SupCom ALE-RR