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“Eu vi nos olhos dele, que iria me matar”, diz vítima de violência doméstica

Veja o relato da mulher que sofreu por 12 anos em um relacionamento abusivo até conseguir romper o ciclo de violência com ajuda do Chame

Ela prefere não ser identificada, mas aceitou contar um pouco do relacionamento abusivo vivido durante 12 anos. A história do casal começou ainda na época da escola, quando ela tinha 17 anos. Sem dar muitos detalhes, ela conta que a primeira agressão física aconteceu depois de eles casarem e terem o primeiro filho. “Ele pediu desculpas e disse que aquilo não ia se repetir”, relembrou.

O agressor até deixou de agredi-la fisicamente, mas passou a lhe atacar psicologicamente, tipo de violência mais comum contra as mulheres e igualmente grave. Ele dizia que ela estava acima do peso, e passou a controlar o dinheiro dela a ponto de vender a motocicleta dela sem avisar, deixando-a sem transporte. “Eu brigava mas acabava cedendo, de alguma forma. Às vezes eu pensava que tinha o controle da situação, só que todo esse tempo era ele”, refletiu.

Ela não entendia que estava sofrendo violência doméstica. A percepção dela começou a mudar ao notar que o seu filho estava adquirindo comportamentos agressivos como o do pai. “O que ele falava para mim, falava também para o meu filho. A partir daí, comecei a olhar [a situação] com outros olhos.”

Outro momento em que ela percebeu que a vida com o companheiro não era normal foi quando precisou acompanhar a irmã – que também era vítima de violência doméstica – em atendimentos no Chame (Centro Humanitário de Apoio à Mulher). Durante os atendimentos, ela entendeu o que era a violência doméstica e que existe uma legislação de proteção às vítimas. Ao contrário dela, a irmã ainda sofre a violência doméstica até hoje.

Pedir ajuda nem sempre é fácil

A decisão de procurar ajuda no Chame não foi fácil. Antes de entrar no prédio, ela chorou por vários minutos e reuniu as últimas forças para reconhecer, depois de 12 anos, que era vítima de violência. No centro ela foi recebida por uma psicóloga e assistente social onde foi acolhida e orientada.

Depois deste primeiro contato, ainda morando na mesma casa do agressor, as brigas aumentaram, momento em que ela chegou a ser proibida de visitar os familiares e passou a sofrer ameaças. “Ele dizia que eu não sabia o que ele era capaz de fazer. (…) Chegou ao ponto que eu dormia trancada. Colocava cadeira na porta, com medo de ele entrar e fazer alguma coisa comigo”, disse, visivelmente constrangida.

Depois da separação, ela relembra que um dia o ex-marido chegou de surpresa convidando para visitar uma chácara da irmã dele. Pelo comportamento que ela considerou diferenciado, ela acredita que, naquele dia, ele planejava cometer um homicídio e ao perceber que algo estava estranho, rejeitou o convite. “Meu filho se trancou no quarto com medo. Se eu tivesse ido, ele teria me matado. Eu vi nos olhos dele, que iria me matar.”

A vida após a denúncia

Com ajuda do Chame, aos poucos ela foi se reerguendo. Ela solicitou na Justiça uma medida protetiva, e voltou para a faculdade, o que era impedida antes. “A partir do momento em que eu não deixei mais ele dominar a minha mente, eu comecei a ter forças para romper esse ciclo.”

As marcas da violência são fortes e a superação é um processo que precisa de ajuda profissional. A assistente social do Chame, Lielma Tavares, acompanhou a vítima desde o começo e relembra que a vítima era uma mulher visivelmente infeliz. “O semblante dela mudou. A transformação foi de dentro para fora. Ficamos felizes, quando salvamos uma mulher, ao ver que as nossas palavras mudam vidas.”

Texto: Vanessa Brito

Foto: Alex Paiva (imagem ilustrativa)

SupCom ALE-RR

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