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TEORIA E PRÁTICA
Workshop do Poder Legislativo discute ‘Autismo sob a ótica das artes marciais’ nesta segunda-feira (27)

A programação do workshop “Autismo sob a ótica das artes marciais” começou na manhã desta segunda-feira (27) no Plenário Noêmia Bastos Amazonas, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR).

Promovido pelo Centro de Acolhimento ao Autista – TEAMARR e a Superintendência de Programas Especiais (SPE) do Poder Legislativo, a capacitação reuniu profissionais da área de educação física e artes marciais, bem como pais, familiares e demais interessados na temática.

Na abertura da capacitação, a deputada Angela Águida Portella (PP), idealizadora do TEAMARR e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Família, da Mulher, da Criança, do Adolescente e Ação Social, fez um convite à reflexão sobre a inclusão das pessoas neurodivergentes na sociedade.

“Nós queremos agradecer a presença dos professores Felipe Nilo e Raphael Martins. Eles compartilharão conosco um pouco do conhecimento para que possamos adotar práticas de inclusão. Tenho certeza de que cada um que está aqui precisa ser um instrumento de transformação social. Nesta sociedade, precisamos lutar muito para que as pessoas possam incluir e compreender as pessoas autistas”, convocou a parlamentar.

 

 

Teoria

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação e o comportamento. Pessoas com a condição podem apresentar dificuldade em se relacionar, em se comunicar de forma verbal ou não verbal e em lidar com mudanças.

As palestras abordaram temas relevantes para a compreensão e o tratamento do TEA sob a ótica das artes marciais e da psicomotricidade, destacando os benefícios do esporte para o desenvolvimento desse público, como ganho de resistência física, disposição, melhora na flexibilidade, coordenação motora, entre outros.

A primeira palestra, proferida pelo professor de educação física Felipe Nilo, idealizador de um centro de artes marciais inclusivas para pessoas com autismo, abordou o tema “Aonde você quer chegar? (Do alto rendimento ao autismo)”.

O palestrante contou como migrou da vida de atleta de artes marciais mistas para a de educador físico. Ele explicou que a luta se baseia no contato direto, já que o alvo é o adversário. Já as artes marciais trazem um contexto técnico e filosófico, e a partir de um plano de ação esportivo pode ser adaptado a uma criança neurodivergente.

“Nesse ambiente, a criança pode aprender disciplina, amor-próprio e interação social, e ter em mente que o nosso objetivo não é conquistar a faixa preta”, ponderou.

O professor também proferiu a palestra “Compreendendo o autismo”. Nilo apresentou informações sobre o histórico do diagnóstico do autismo, desde a associação errônea com a esquizofrenia até as últimas revisões sistemáticas científicas, bem como os sintomas mais comuns do transtorno, os principais fatores genéticos e causas ambientais.

“Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 1 em cada 36 crianças apresenta o transtorno. Se você nunca conviveu com um autista, você vai conviver. Então, temos que capacitar, treinar para conhecer esse grupo”, ressaltou, afirmando ainda que a prevalência do TEA vem aumentando nos últimos anos.

A palestra “Psicomotricidade e a neurodiversidade” foi conduzida pelo professor Raphael Martins, que é especialista em Educação Especial e Inclusiva e em Psicologia da Educação, educador físico, psicomotricista e coordenador do Grupo de Pesquisa em Psicomotricidade e Aprendizagem Motora (Gepam).

Por meio de dinâmicas interativas com a plateia, Martins explicou que a psicomotricidade é uma área da educação física que estuda a relação entre o movimento e o desenvolvimento humano, onde emoção, cognição e movimento estão interligados. Ele destacou a intervenção psicomotora como uma abordagem muito benéfica.

“Melhora a execução, integração, controle do movimento e a noção corporal. Dinamiza as relações sociais. Estimula as percepções rítmicas, facilita a comunicação e a expressão corporal, melhora a resposta cognitiva e estimula aspectos sensoriais”, elencou.

Desde que “descubra do que o aluno gosta, encontre o espaço adequado, retire as distrações, identifique as zonas de conforto social entre você e o aluno. E o mais importante de todos estabeleça uma conexão”, ponderou.

A quarta e última palestra da manhã, “A dimensão do professor que quer trabalhar com pessoas com autismo”, foi proferida por Nilo.

Com exemplos de vídeos de aulas práticas com os alunos, ele salientou que o educador físico precisa internalizar valores (justiça, moralidade, compaixão, benevolência, coragem, honra), disciplina, flexibilidade para se adaptar a novas regras, além de saber explicar conceitos da arte marcial, para que possa influenciar no desenvolvimento dos alunos com TEA.

“Sempre falo que ser faixa preta não é ser um professor. Puxar treino é muito fácil, preciso de um método, seguir um planejamento. E saber o que está fazendo, porque não é permitido achismo. Por isso, é necessário conhecer o aluno, se preparar e planejar, ser criativo, criar histórias, dar pistas visuais, ser objetivo”, entre outros elementos, explicou o professor.

A primeira etapa do workshop foi muito bem recebida pelo público, que já promete aplicar o conhecimento da capacitação.

“Os professores estão trazendo uma realidade de outro estado, pois ainda não tivemos nenhum curso nessa área aqui em Roraima. Esse conhecimento, com certeza, vai abrir a mente de muitos pais e profissionais para estimular os pais a perceberem que as artes marciais ajudam muito”, afirmou a servidora pública Márcia Figueiredo, mãe de um menino com autismo.

 

 

“Como o professor mesmo mencionou, é preciso avaliar o ambiente, a iluminação e o barulho, porque esses pequenos detalhes fazem toda a diferença. Isso é importante trazer não só para as artes marciais, mas também para a capoeira e para a aula de dança, para que esse profissional tenha esse olhar e possa avaliar essa criança da melhor forma possível”, ponderou a neuropedagoga Magali Patrício Melo, fundadora do Espaço Pedagógico Mentes Brilhantes, que atende seis crianças com TEA.

Há 13 anos, o educador físico e mestre de capoeira Michell Mendes trabalha em uma escola particular de Boa Vista. Para ele, a teoria é fundamental para a prática, pois ajuda a desmistificar preconceitos.

“Isso está sendo muito bom para mim, para esclarecer as definições, principalmente por substituir esse nome de ‘retardado’, para alguém com algum tipo de dificuldade em linguagem, comportamento, de atenção. Porque, dentro da nossa instituição, tem alguns com síndrome de Down, autismo, então a gente vê como é muito importante essa capacitação, porque cada um é outro mundo”, disse o professor.

Prática

A capacitação segue pela tarde e à noite com oficinas práticas, dinâmicas, brincadeiras e jogos com materiais reciclados e de fácil acesso, a partir das 13h45, no Plenarinho Valério Caldas de Magalhães, também na sede do Poder Legislativo. Confira a programação completa do workshop:

Manhã
8h: Abertura oficial do evento

8h15: Aonde você quer chegar? (Do alto rendimento ao autismo) – Felipe Nilo;

8h45: Compreendendo o autismo – Felipe Nilo;

9h45: Psicomotricidade e a neurodiversidade – Raphael Martins;

10h45: A importância das artes marciais para o tratamento do autismo – Felipe Nilo;

11h45: Almoço.

 

Tarde

13h45: Estruturas psicomotoras e desenvolvimento motor – Raphael Martins;

14h45: A dimensão do professor que deseja trabalhar com o autismo – Felipe Nilo;

15h20: Práticas psicomotoras – Raphael Martins;

16h20: Efeitos colaterais das punições nas artes marciais – Felipe Nilo;

16h40: Adaptar não precisa ser difícil – Felipe Nilo;

17h: Encerramento.

 

Noite

19h30: Dinâmica dos sentidos: um olhar para a neurodiversidade – Raphael Martins;

20h15: Do alto rendimento ao autismo (A importância das artes marciais para o TEA),

Agressividade, artes marciais e o autismo; Lidando com crises e birras no tatame,

e Conversando com seus alunos sobre o autismo;

21h: Encerramento.

Flickr ALE-RR

Os registros fotográficos do evento poderão ser acessados no Flickr da Assembleia Legislativa no endereço https://www.flickr.com/photos/alrr/albums

Texto: Suellen Gurgel

Fotos: Alfredo Maia//Marley Lima/Nonato Sousa

SupCom ALE-RR

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