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Roraimense vítima de tráfico humano fala sobre os traumas da exploração

O Núcleo de Prevenção e Atendimento às Vítimas de Tráfico de Pessoas vem desenvolvendo uma série de ações de prevenção.

Embora o tráfico de pessoas ainda passe longe dos olhos da sociedade, esse tipo de crime é uma realidade em Roraima, onde existem alguns casos já registrados e que estão sob investigação. Para prevenir as pessoas a não caírem em convites com propostas tentadoras, a Assembleia Legislativa de Roraima, por meio da Procuradoria Especial da Mulher e Núcleo de Prevenção e Atendimento às Vítimas de Tráfico de Pessoas, desenvolve um trabalho de conscientização, a exemplo do que acontecerá neste domingo, 30, uma panfletagem na rodoviária internacional de Boa Vista, das 18h às 21h, e lançamento do aplicativo para celular, na segunda-feira, 31, às 9h, no plenarinho da Assembleia, por conta do Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Uma jovem de Roraima foi vítima do crime de tráfico de pessoas, pois, assim como muitas moças e rapazes, acreditou em promessa de trabalho, com um bom salário, e se viu presa em uma armadilha cruel, de agressões, prostituição e, inclusive, presenciou a morte de outras garotas. Esse caso aconteceu recentemente em Roraima, na região sul do Estado.

Na entrevista, e ainda muito abalada, ela se emociona ao lembrar detalhes, como desde que foi abordada por uma mulher em Boa Vista, que lhe fez a proposta de emprego, o momento de fuga do local, e o período que ficou aprisionada dentro de sua própria casa, por medo de ser encontrada.

A jovem contou que o fato aconteceu justamente quando ela enfrentava um momento difícil da vida com o término do casamento, desempregada e com uma filha pequena para criar. “Conheci essa mulher em Boa Vista. Bonita, de boa aparência e muito educada. Contei minha situação pra ela, que prontamente prometeu ajuda. Nossas conversas se tornaram frequentes até que um dia saímos à noite para um barzinho, onde conversamos, bebemos. Lembro-me que fui atingida com algo na cabeça e desmaiei. Quando acordei estava em outra cidade, aqui em Roraima”.

Ao acordar e ainda desnorteada com tudo o que aconteceu, a jovem percebeu que estava em uma casa que, até então, não aparentava ser de prostituição. “Passei dois dias bem e me recordo da presença de um homem e uma mulher, ambos venezuelanos, mas nunca vi a mulher que me prometeu trabalho”, contou. No terceiro dia, segundo ela, apareceram outras garotas, outro homem e uma mulher. “Na frente do local funcionava um bar e atrás tinha um quarto, onde quase 30 meninas dormiam. Esse espaço era muito pequeno para a quantidade de meninas, mas era onde dormíamos e fazíamos nosso lanche”, disse.

Foram intermináveis cinco dias de sofrimento

Cinco dias que pareceram uma eternidade. Com a cabeça baixa e lágrimas escorrendo pelo rosto, a jovem contou que esse período foi o pior de sua vida, porque naquele tempo ela sofreu muita agressão psicológica e física, e chegava a ficar desorientada. “Nessa casa a gente não tomava café, não almoçava e nem jantava. Só ofereciam refrigerante com biscoito e vivíamos fracas, sem força alguma”, relatou. Ela lembrou ainda que as garotas não ficavam presas, mas eram vigiadas por ‘olheiros’.

A jovem contou ainda que as garotas eram obrigadas a ter relação com os homens e as que negavam eram punidas. “Conheci duas meninas, até chegamos a planejar uma fuga, mas em uma madrugada elas foram assassinadas com uma arma que não se ouvia o barulho do tiro. Os corpos foram arrastados para dentro do mato. Eu vi a morte delas. Eles faziam isso para deixar a gente com medo. E eu tinha muito medo, só pensava na minha filha”, lamentou.

Com a morte das garotas, a jovem pensava em sair do local o mais rápido possível, mas para isso acontecer precisaria pensar em algo que não pudesse dar errado, pois, caso contrário, já saberia o seu fim.

Um anjo que apareceu na hora certa

Era um dia de grande movimentação na casa e a jovem viu a esperança chegar. No ambiente apareceu um rapaz acompanhado por um colega para sair com alguma garota. “Esse rapaz disse que me viu afastada de todos e por isso foi conversar comigo”, lembrou. “Ele percebeu que eu não estava feliz e eu comentei que precisava de ajuda, e prometeu voltar e que me ajudaria a fugir, e assim ele fez”, revelou a jovem.

Ela contou que no dia seguinte, o mesmo homem apareceu na casa e, para que ninguém desconfiasse da intenção daquela visita, pagou pelo programa e saíram. “Esse rapaz me levou pra casa dele e contei a minha situação, sobre minha família”. Ao ouvir atentamente a história da mulher, a primeira atitude foi deixá-la na delegacia de uma cidade da região, mas ela relatou que não se sentiu segura. “Eu tive muito medo, não confiava em ninguém por achar que poderia me levar de volta pra lá”. Mesmo receosa, da delegacia ela foi encaminhada para Boa Vista, onde passou a ser atendida por profissionais do CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social).

Assembleia Legislativa na luta contra o tráfico de pessoas

Desde que foi implantado, em maio de 2016, o Núcleo de Prevenção e Atendimento às Vítimas de Tráfico de Pessoas vem desenvolvendo uma série de ações de prevenção, além de fazer atendimento às vítimas. Entre tantas ações promovidas ao longo desse período, será realizada no domingo, 30, uma panfletagem na rodoviária internacional de Boa Vista, das 18h às 21h, e lançamento do aplicativo para celular, na segunda-feira, 31, no plenarinho da Assembleia, por conta do Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

A coordenadora do Núcleo, Socorro Santos, disse que o tráfico de pessoas é um crime invisível. “A gente vem trabalhando ao longo do tempo, e é muito difícil uma mulher que foi traficada, enclausurada, que foi convidada por esse violador, chegar até você e falar o que aconteceu e pedir ajuda”, salientou. Socorro afirmou que nesse um ano de funcionamento, o Núcleo atende cinco mulheres, vítimas de tráfico de pessoas.

Por Edilson Rodrigues

SupCom/ALE-RR

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