Apreensivos com o “monstro” da privatização de seis distribuidoras de energia elétrica que fazem parte do Grupo Eletrobras, cujo leilão está marcado do para o próximo dia 30 de abril, os servidores do setor elétrico lotaram as galerias da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima para participar da audiência pública proposta pelo deputado Soldado Sampaio (PCdoB), que tem como finalidade discutir os impactos dessa medida para o setor. Além da distribuidora de Roraima, também estão na lista os estados do Amazonas, Acre, Rondônia Piauí e Alagoas.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de Roraima (Stiurr), Gissélio Cunha Costa, disse que caso se concretize a privatização, a medida afetará diretamente 353 servidores em Roraima. Esse quantitativo se refletirá nas famílias dos empregados, que a entidade calcula ser em torno de cinco mil dependentes.
“Todos nós tememos a privatização porque, olhando pelo lado do empregado, haverá demissão em massa, e do ponto de vista da sociedade haverá uma quebra na qualidade dos serviços que são prestados à população”, disse Costa, ao ressaltar que o histórico das privatizações no País é de impor regras que venham a prejudicar o trabalhador.
“Eles vão contratar quem eles quiserem, vão reduzir salário, tirar todos os nossos benefícios. Com a situação que está o Brasil, quando se demite um funcionário, tem mais de dez pais de famílias na fila, dispostos a aceitar o mesmo emprego ganhando muito menos”, observou o sindicalista, ao salientar que os sindicatos do setor elétrico tentam reverter o processo com o apoio político, pois sabem que o desemprego comprometerá ainda mais o Estado, que já está economicamente desequilibrada.
O setor elétrico é composto pela geração, transmissão e distribuição de energia. Na mira do Governo Federal, neste primeiro momento, está a privatização das distribuidoras. “Mas o governo já sinalizou que quer privatizar toda a Eletrobras. Ou seja, todo o setor elétrico está ameaçado de demissão com a privatização”, complementou Costa.
O contador Licínio Jardim veio do Estado do Pará e está há 15 anos na empresa. A ‘escuridão’ que envolve esse processo de privatização é o que mais o perturba. “Todos estamos com medo porque, enquanto empregado, não é repassado para a gente uma política de como ficará o corpo de empregados após a privatização. O cenário que nos venderam são os mais temerosos. Há 15 anos em Roraima, já me sinto roraimense e roraimado, assim como outros que criaram raízes, que não têm mais garantia de nada se a privatização se concretizar”, disse.
Licínio chamou a atenção para ilusão que se vende ao consumidor, de que os serviços serão melhores após a privatização. “É um engano. Para levar energia ao consumidor o custo é muito alto e se não tiver o apoio de subsídios governamentais não tem como manter a tarifa, que a gente pensa ser alta, mas que tem uma compensação para chegar a esse preço para nós consumidores”, ressaltou.
O deputado Soldado Sampaio ressaltou que a ideia da audiência é discutir a fundo a situação porque as consequências da privatização não serão apenas para os funcionários, mas para todos os roraimenses. “Como nos atinge diretamente precisamos ouvir a sociedade organizada, os trabalhadores e a classe política para saber quais são os benefícios e os malefícios que podem trazer para nossa gente”, disse, ao ressaltar que energia elétrica é vetor de desenvolvimento e inclusão social.
“Será que a destruição da energia elétrica nas mãos do setor privado terá esse compromisso social ou será apenas uma ferramenta de ganhar dinheiro e descapitalizar essas empresas? Sou contra a privatização, mas temos que ouvir os dois lados, apesar de entender que há um interesse econômico político e financeiro por trás das privatizações, pois as forças que a defendem são muito fortes”, avaliou.
Ele acredita, inclusive, que o Poder Legislativo, por meio da bancada federal, poderá impedir essa privatização porque a água e energia são estratégicas e não podem ser vistas como mercadorias. “Como a Eletrobras recentemente assumiu boa parte do patrimônio da CER (Companhia Energética de Roraima), e até este momento desconhecemos qualquer indenização das linhas de transmissão, das subestações e dos geradores isolados, os quais estão no rol dos bens a serem privatizados, precisamos saber se, de fato, o Estado já foi indenizado”, explicou.
“Esse patrimônio é do Estado e dos municípios. Então isso é de interesse da Assembleia, porque estão querendo privatizar algo que talvez não seja de fato e de direito, ainda, de propriedade da Eletrobras, mas que pertence ao povo roraimense. Após essa audiência, vamos emitir um relatório destinado à bancada federal de Roraima e aos partidos, para que façam pressão política, já que tramita no Congresso Nacional Medida Provisória para tratar das privatizações. Vamos cobrar da bancada federal um posicionamento”, disse o parlamentar.
Por Marilena Freitas
SupCom/ALE-RR