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Com apoio do CHAME, mulher denuncia violência sofrida durante 11 anos

Uma mulher de 34 anos, que prefere não ser identificada, mesmo ainda superando as marcas psicológicas da violência que sofreu, aceitou compartilhar o que vivenciou para encorajar outras mulheres a denunciarem este crime.  Ela é uma das vítimas protegidas pela Lei Maria da Penha (11.340/2006), que completa 14 anos de atuação nesta sexta-feira (7).

O casal se conheceu em uma vila residencial, depois eles se tornaram amigos, e assim nasceu um relacionamento que durou 12 anos. Depois de um ano morando juntos, ele começou com as agressões verbais, em seguida as agressões físicas. Como ele sempre prometia mudar de comportamento, a vítima acabava acreditando nas promessas e perdoava, pois, queria salvar o casamento.

“Ele chegava agressivo em casa, querendo me bater, me machucava com palavras, e muitas vezes não são só palavras. Nos tempos de separação também. E a gente foi vivendo essa vida, e a gente ficava um dia bem e no outro dia não. Era constante, porque ele bebia muito, é viciado em drogas e álcool”, contou a vítima com a voz embargada e com lágrimas nos olhos.

A vítima relatou que por conta da dependência química, o ex-marido pegava eletrodomésticos e eletrônicos de casa e trocava por drogas, e a ameaçava, pedindo dinheiro para manter o vício. Ela por não aguentar mais viver essa realidade com os quatro filhos, também alvos de agressão física e verbal, pediu e conseguiu divórcio no ano passado.

Depois de muita insistência, o ex-marido saiu de casa e se mudou para Manaus, no Amazonas.  Mas depois de alguns meses, ele voltou para Boa Vista e tentou impor uma reconciliação. “Ele disse que não tinha dado certo, e que voltaria para casa. Quando eu disse que não, ele ficou doido e disse, ‘eu vou voltar e infernizar a sua vida’.”

Anjo da guarda

No mês de janeiro deste ano, momento em que o agressor ligava constantemente ameaçando e pedindo dinheiro para comprar drogas, a vida da mulher começou a mudar com ajuda de uma vizinha que a encorajou a procurar o CHAME (Centro Humanitário de Apoio à Mulher) e passou o número do Zap Chame (95 98402-0502), criado há cerca de quatro anos por iniciativa do presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier (SD).

Para a vítima, a ferramenta foi um anjo da guarda, pois foi com ajuda dela que ela percebeu que a violência doméstica não é normal em um relacionamento afetivo. “Para mim, a violência era apenas fisicamente. Isso é muito grave, porque quando sofria isso, eu pensei em muita besteira na vida. Eu pensei em até acabar com a minha vida, porque tinha vergonha de procurar ajuda, medo.”

Ela recebeu as orientações da equipe por mensagens em casa, se sentiu encorajada e depois de 11 anos sofrendo violência física e psicológica, denunciou o ex-marido na delegacia. Depois, conseguiu a medida protetiva, respaldada pela Lei Maria da Penha.

“Eu me sinto bem, e hoje eu sei quais são os meus direitos como mulher, e tudo isso foi através do CHAME, através das mulheres que me orientaram pelo telefone”. Aos poucos, ela está se reerguendo, pois superar traumas da violência doméstica é um processo. Hoje, ela trabalha e tem o apoio dos filhos que são seu porto seguro para virar essa página.

CHAME fortalece aplicação da lei Maria da Penha em Roraima 

O CHAME, um dos programas da Procuradoria Especial da Mulher, da Assembleia Legislativa de Roraima, trabalha levando informação e um acolhimento humanizado às vítimas de violência doméstica e outras violações. Desde 2009, o Centro já realizou mais de dez mil atendimentos por uma equipe composta por advogados, psicólogos e assistentes sociais.

O presidente da Assembleia Legislativa, Jalser Renier, enfatizou que há 11 anos o Poder Legislativo tem atuado no combate à violência doméstica e lembrou que desde 2016, após aprovação de uma resolução legislativa de autoria dele, a população pode contar com o ZapChame. “É um serviço que funciona por meio de um aplicativo de mensagens 24 horas por dia para orientar e encorajar vítimas a romperem o silêncio e denunciarem os crimes de violência doméstica. A vítima recebe todo auxílio desde o suporte psicológico até o jurídico, lembrando que o combate à violência doméstica é um dever de todos nós” disse.

Segundo a procuradora especial da Mulher, Lenir Rodrigues (Cidadania), o CHAME se tornou referência na proteção à mulher. “A Procuradoria fortalece aplicação da Lei Maria da Penha em Roraima, porque as mulheres aqui já se acostumaram. Quando elas têm um problema, elas procuram o CHAME. Então, mesmo em tempo de pandemia, não paramos de trabalhar por meio do WhatsApp, o ZapChame que funcionou durante a pandemia”,

Desde o mês de março, o ZapChame realizou quase 400 atendimentos, incluindo denúncias relacionadas à violência física, psicológica, moral, patrimonial e ameaças. São ligações de mulheres de Boa Vista, de municípios e outros estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Recife, Fortaleza e Amazonas.

Maria da Penha 

A Lei 11.340/2006 tornou mais rigorosa a punição para agressões doméstica e familiar contra a mulher. A medida foi sancionada em 7 de agosto de 2006, e entrou em vigor no dia 22 de setembro. O nome da lei é uma homenagem à Maria da Penha Maia, agredida pelo marido durante seis anos até se tornar paraplégica, depois de sofrer um atentado com arma de fogo, em 1983.

Texto: Vanessa Brito

Foto: Eduardo Andrade / Reprodução TV ALE

SupCom ALE-RR

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